Faltam adjetivos relativos a pirotecnia e frenesi visual para descrever Marvel vs. Capcom.
A série é uma dos mais ofuscantes, aceleradas, explosivas, exageradas e coloridas da indústria desde a sua concepção em 1998 - e seu novo capítulo, Marvel vs. Capcom 3: Fate of Two Worlds, aguardado há uma década, segue essa desvairada tradição.
Com 36 lutadores, divididos igualmente entre Marvel e Capcom, o título entrega enorme variedade de estilos de jogo. Há, por exemplo, a velocidade de Dante, Capitão América, Wolverine e Chun-li; a força bruta de Hulk, Sentinela, Mike Haggar e Super Skrull; e o poder de fogo de Doutor Destino, M.O.D.O.K. e Chris Redfield. Combinar três personagens distintos no "tag team" que é marca da série, para adequá-los ao seu estilo de jogo e equilibrar o poderio da trinca no ringue, é parte da diversão. Mas ainda que 36 lutadores pareça bastante, dá saudade dos quase 60 (!) personagens do game anterior. A diminuição é reflexo da mudança nesses 10 anos do mercado, que passou a contar com downloads pagos. Assim, até que essas seis dezenas seja alcançadas em Marvel vs. Capcom 3 devem-se passar meses... e quase o dobro da grana investida originalmente no jogo.
Visual e jogabilidade
O título segue as ideias de games recentes de luta, com renderização 3D de personagens e espaços e combates dentro do mesmo plano, em 2D. A solução retoma as partidas mais dinâmicas dos fliperamas de outrora, mas sem o chão grudento e os queixos encostando no ombro, dos próximos jogadores tentando assistir à partida em curso.
O visual impressiona especialmente por tamanha informação simultânea de raios, explosões e fundos não causar travamentos. O detalhamento dos cenários traz surpresas a fãs dos dois universos e os personagens foram bem desenvolvidos graficamente, em movimentação e em suas personalidades, todas bem distintas e coerentes com suas contrapartes nos quadrinhos e outros games.
No modo arcade, Marvel vs. Capcom 3 não perde tempo com histórias forçadas - que normalmente se arrastariam em sequências animadas de pouco interesse - e parte direto à honesta pancadaria pela pancadaria. Sem qualquer explicação, os dois mundos são reunidos e começa a sequência de combates que culminarão no enfrentamento de Galactus, o chefe final desse modo. Uma das mais poderosas entidades do Universo Marvel enche a tela e dá trabalho, mas faltou também uma entidade tão poderosa quanto o Devorador de Mundos do lado do Universo Capcom para seguir com o equilíbrio temático que é central à série.
De qualquer maneira, o modo Arcade serve apenas para treinar, gerar pontos e destravar os finais de cada personagem (rodadas concluídas só liberarão o final do personagem que desferir o golpe final contra Galactus). O grande interesse é mesmo descarregar um "hadouken" seguido por um "Mighty Thunder" e um "Gamma Quake" na cara de alguém na Internet ou no controle dois. Inundar a tela de fanfarrônica energia é o grande barato de Marvel vs. Capcom 3... E nada melhor do que um oponente de verdade para, no caso de uma vitória humilhante, caçoar dele depois.
Nesse sentido, os embates online são ótimos. A otimização do programa para o multiplayer é louvável, com lags quase imperceptíveis se você e seu oponente tiverem conexões no mínimo medianas. Mesmo que os lags aconteçam, no entanto, você pode acostumar-se a eles no completíssimo modo de treinamento, que tem até simulação de latência de rede.
A forma como são destravados extras no título é igualmente agradável. Não é necessário terminar o game inúmeras vezes para ver sons, imagens, modelos 3D ou ter acesso a novos jogadores: basta jogar (ganhando ou perdendo) e você será recompensado com pontos, que são distribuídos o tempo todo. Em pouco tempo seu panteão estará completo e haverá bastante coisa para ver em seções específicas.
O game peca, porém, na dificuldade de usar o controle padrão dos consoles em outro de seus elementos mais divertidos, os combos aéreos. A agilidade necessária para dar o "super pulo" ou os dois toques para o lado (encostar no adversário é essencial para soltar o golpe que o jogará ao ar) é enorme, dadas as limitações do diminuto direcional de ambos os videogames para os quais o jogo foi lançado (PlayStation 3 e Xbox 360). Jogar o inimigo para o alto está mais fácil do que nunca (o botão de golpe especial resolve o problema com um apertão bem colocado), mas caçá-lo nos céus não é tão tranquilo quando deveria.
Em compensação, a Capcom facilitou bastante as demonstrações de energia de todos os personagens. Não é difícil disparar combos, hyper combos e crossover combos no modo normal de jogo - e um modo simplificado torna possível as mais enlouquecidas emissões de poderes por qualquer novato. Raios, conjurações, golpes colossais e malabares repletos de pólvora nunca foram tão democráticos. Se você lamenta nunca ter conseguido elencar aquelas sinfônicas sequências de botões de Street Fighter IV que liberam os supercombos, Marvel vs. Capcom 3 é o game pra você.
Enfim, Marvel vs. Capcom 3 não é um game tão pretensioso e preocupado com o aspecto competitivo, profissional até, dos jogos eletrônicos, como o refinado e balanceado Street Fighter IV (dotado também de um hall de seleção de multiplayer bem mais elaborado), mas certamente trata-se de um dos mais divertidos.
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